Testes de equipas oficiais em Portugal (1989)

TOYOTA

Foi um Carlos Sainz optimista que fomos encontrar a fazer os primeiros ensaios com o Celica em terra. Este chegou no passado domingo a Oliveira do Hospital, enquanto os homens da TTE, procuravam na zona, um sitio para que se pudessem efectuar os primeiros ensaios de suspensões de terra. No entanto e de acordo com as susas palavras, todos concordariam que sera esta zona a mais interessante [Viseu] para se iniciar o trabalho.

Uma passagem por Arganil mostrara um troço duro demais para o que era solicitado, e que seria nesta altura verificar o comportamento das suspensões e pneus em condições de alta velocidade, e não de dureza excessiva de piso.

“Tentamos ensaiar de tudo um pouco. Faremos diversos testes com molas e com cargas de amortecedorew diferentes, para se tentar encontrar a melhor solução” – começou por nos dizer Sainz.

Desde manhã cedo que o espanhol procedia a diversas mudanças de suspensões: “Começámos por montar umas mais progressivas, para depois irmos mudando para as outras, cada vez mais duras, parajá as experimentadas de manhã, deram melhores resultados que estas agora ensaiadas. Não gostei e vamos mudar” – concluiu.

Na verdade um curta volta pela prova especial de classificação tinha trazido o piloto de volta para o local de assistência, onde a expressão não era de grande contentemento. Pacientemente os mecânicos tornaram a desmontar tudo, para montar o metrial diferente (novo), com vista a nova passagem.

(...)

Lá partiu o espanhol para mais uma passagem no troço de Viseu.

Desta feita o Toyota pareceu um pouco mais solto de traseira quando se tentou forçá-lo a um andamento mais rápido.

Certamente se teria que mudar tudo outra vez pois era necessário continuar a tentar obter a melhor solução.

Entretanto para nós era o regresso à pressa a Lisboa, para vos dar conta de tudo, o que se passou na namnhã de ontem em Viseu.


Fonte : Jornal “Autosport” de 7 de Fevereiro de 1989
Autor do texto : Luis Caramelo
Autor da foto : Sports – Cunha/Romeiras

LANCIA

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De há alguns anos a esta parte a zona de Arganil tem reunido as preferências dos técnicos da marca italiana, que aí podem usufruir de condições dificeis de encontrar noutras zonas da prova.

Nos últimos anos a classificativa do Piodão acolheu a “caravana” da Lancia, que este ano se apresentou mais [palavra iligivel], dividindo os dias de trabalho entre São Gião, a zona do Mosteiro em Folques e ainda o cruzamento da casa do guarda, em pleno troço de Arganil/Fajão.

Aparentemente esta itinerância poderá não parecer significativa, mas é-o, tal como nos referiu o eng. Limone, técnico responsável pelo trabalho que viria a ser desenvolvido:

“De facto este ano dividimos o trabalho por diferentes zonas, para podermos trabalhar em alguns dos tipos de piso que caracterizam a vossa prova. Aqui em Folques temos uma classificativa com piso “duro” e com muito trabalho de suspensões e pneus, o que não acontece na zona do “cruzamento”, onde a classificativa é bastante rápida e com bom piso. Procurámos trabalhar em zonas com condições diferentes para obtermos um resultado final tão positivo como é de desejar”.

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Conversámos com os técnicos da Lancia e Michelin, o Lancia Integrale chegava de mais algumas passagens no improvisado troço e, deixando-os nas suas funções, ouvimos o seu piloto, Rafaelle Pinto:

“Este trabalho é muito importante até para permitir uma certa confiança aos pilotos, que se sentem muito mais motivados. Uma prova disso é, sem dúvida, o resultado do Rali de Monte Carlo, onde por exemplo as escolhas de pneus procuparam muito menos os nossos pilotos que noutras equipas.”

Pronto para ensaiar mais um tipo de molas e amortecedores, “Lelle” Pinto ainda aproveitou para referir o seu desagrado em relação às condições climatéricas, que se mostravam algo instáveis:

“Aqui, o tempo nesta altura é assim tão instável ou é temporário? Pessoalmente preferia que ele se decidisse ou pelo sol ou pela chuva.”

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Na Lancia existe um rotatividade entre os pilotos que realizam estes testes e Markku Alen não se mostrou nada aborrecido com a tarefa que lhe coube em Portugal:

“Gosto muito deste rali e estou bastante satisfeito com os resultados que temos vindo a obter, pois têm-se revelado bastante positivos.”

Durante os ensaios Markku Alen não viria a ser muito feliz, já que no primeiro dia “partiu” o motor do Lancia e no segundo, quando testava a eficiência da “mousse” nos pneus não reforçados, viria a ter problemas na caixa de velocidades dando por terminados os trabalhos na terra:

“Não é nada de preocupamente, são situações normais neste tipo de trabalho, até porque os carros utilizados são normalmente carros já com bastantes quilómetros”, afirmou Markku Alen, encostando o Lancia e partindo no Mercedes 200 que estava a utilizar para reconhecer as classificativas da região centro.

Era então altura de “Lelle” Pinto tomar os comandos do Lancia com especificações de asfalto e iniciar o trabalho nesse tipo de piso.


Fonte : Jornal “Motor” de 14 de Fevereiro de 1989
Autor de texto e foto : José Silva

Testes de equipas oficiais em Portugal (1988)


FORD


Quinta-feira de manhã. Pousada de Santa Bárbara, perto de Oliveira do Hospital.

O dia amanheceu há pouco tempo, mas a calma característica dos arrabaldes da serra da Estrela é interrompida por uns ruídos estranhos. Os motores das carrinhas aquecem, para arrancar para mais um dia de actividade. O trabalhar das Ford Transit atrai a presença de motores a gasolina, sempre preciosos quando se trata de deslocar grandes cargas o mais rapidamente possível.


A carrinha de serviço, marcada com a sigla S3, está pronta para arrancar. A seu lado, a T3, carregada com pneus de diversos tipos, afasta a humidade da noite dos seus circuitos.


Os pilotos profissionais levantam-se cedo. Mal abriu a sala de refeições da pousada e já a equipa da Ford toma o seu pequeno-almoço. Um pequeno-almoço multinacional, tomado muito à portuguesa. Café com leite para todos.

A língua dominante é o inglês, a única a tornar-se estendível de um lado ao outro da mesa. De vez em quando, ouvem-se algumas palavras em espanhol, trocadas entre Carlos Sainz e o mecânico que o acompanha nos treinos. Stig Blonqvist não tem com quem falar em sueco. Português, só mesmo para pedir um pouco mais de açúcar. Os dois mecânicos ingleses e os responsáveis pela equipa Ford – Jim Porter e um engenheiro da marca – estão mais à vontade.


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As carrinhas têm o motor quente e é altura de deixar a pousada. O destino é o troço de Viseu, onde existe a vantagem de se poder testar tanto no asfalto como na terra. Um caravana de sete carros faz-se à estrada.


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O Sierra Cosworth de ensaios, praticamente um carro-laboratório, lá está no cruzamento do aeródromo, conduzido pelo engenheiro responsável pela sessão. É preciso algum tempo para que as duas carrinhas despejem o seu conteúdo e fiquem operacionais. Os pneus amontoam-se, ordenados segundo as diversas misturas de borracha. O gerador começa a funcionar.


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Ao fim da manhã, é hora de mudar o quartel-general. Foi escolhido o inicio do troço de Viseu para analisar o comportamento do carro na terra. Há que arrumar de novo o material e fazer alguns quilómetros até ao local indicado.


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Repete-se o ritual de descarregar das carrinhas o material necessário. Os dois mecânicos ingleses não percebem o espanhol nem o mecânico que acompanha Sainz entende o inglês, mas a comunicação entre os três faz-se sem dificuldades. Tudo a correr sobre rodas. Em breve, o piloto espanhol pode fazer a sua primeira passagem. Depois de uma pequena recta para ganhar velocidade há uma curva para a esquerda que Sainz faz já bastante depressa. É um bom local para tirar as primeiras fotografias.


Depois de uma série de passagens, o espanhol pára frente às carrinhas. Gostaria de tentar com uns amortecedores com um curso um pouco maior. Meio centímetro a mais chega.


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A hora de almoço já passou há muito e há quem se ofereça para ir buscar umas sandes e alguma coisa para beber. O trabalho não pára, até porque há que aproveitar as horas de sol. Ao anoitecer, será o regresso à Pousada. No dia seguinte tudo irá recomeçar, desta vez com Dider Auriol, outro piloto pouco habituado aos pisos de terra.


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Fonte : Jornal “Autosport” de 2 de Fevereiro de 1988

Autor de texto e fotos : Luis Caramelo



LANCIA


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Foi na passada semana que uma “caravana” de cinco carros chegou à zona centro do país onde a Lancia iria iniciar os ensaios finais do Lancia Integrale, numa zona que já havia sido utilizada no ano passado.


As primeiras novidades destes ensaios era sem dúvida a presença de Rafaelle Pinto que este ano substituía o já habitual Pianta agora transferido para o departamento de competição da Alfa Romeo.


Acompanhando Rafaelle Pinto estavam Carlo Cassina, navegador, Rino Buschiazzo, coordenador, o engº Sergio Limone da Abarth e ainda o engº Jean Luc Bouvier da Michelin para além de alguns mecânicos.

Com inicio previsto para a passada terça-feira o “trabalho” da Lancia sofreu o primeiro contratempo devido ao nevoeiro e mau tempo que se fez sentir na serra de Arganil.


Na terça-feira à noite Rino Buschiazzo dizia-nos :


O tempo aqui não costuma ser assim, lá em cima no Piodão estava um nevoeiro cerrado e chovia uma chuva que mesmo sem ser muito grande não nos deixava trabalhar. Foi um dia perdido e amanhã não sabemos para onde iremos.”


Estes desânimo de Rino foi surpreendido por um sol radioso no dia seguinte e a equipa da Lancia lá seguiu para o Piodão.

Os testes da Lancia começavam assim, optando os responsáveis por realizar primeiro a parte relativa ao asfalto.

Pouco passava das oito da manhã e o Lancia Integrale (versão asfalto) já rodava com Rafaelle Pinto a experimentar as misturas de borracha da Michelin para piso mais “ameno”.


Depois das primeiras passagens o Lancia imobilizava-se junto das carrinhas de assistência e eram medidas as temperaturas dos pneus e observado o seu desgaste.


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O primeiro dia de trabalho estava a chegar ao fim e as conclusões apontavam para o positivo. Antes do fim do dia ainda foi montado um novo diferencial traseiro mas apenas por precaução como nos referiu o eng. Limone, já que o que se encontrava no carro tinha sido sujeito a muitos esforços.


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Estava concluído o primeiro dia de ensaios e no dia seguinte seria já o Lancia Integrale da versão de terra que iria rodar nas estradas da serra de Arganil. Depois de ensaiadas as soluções para asfalto restava aos técnicos da Lancia testarem algumas soluções de suspensões e pneus para pisos de terra.


Foi essa “tarefa” que ocuparam os últimos dias em que estiveram presentes na região centro do país. As soluções de suspensão que vieram a ser ensaiadas não variavam muito das ensaiadas no mesmo local o ano passado, para o Lancia Delta 4WD.


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Com o tempo a não ser muito indicado para este tipo de trabalho o Lancia Integrale lá ia rodando e os mecânicos no final de cada passagem lá iam trocando molas, amortecedores e pneus num trabalho que se prolongou até ao último sábado, altura em que toda a equipa regressou a Itália para preparar já definitivamente os três carros que estarão à partida no Rali de Portugal nos primeiros dias de Março.


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Fonte : Jornal “Motor” de 16 de Fevereiro de 1988.

Autor de texto e fotos : José Silva


Para além da Ford e Lancia também a Mazda e a Volkswagen estiveram presentes com as suas equipas de fábrica no Rali de Portugal, mas não realizaram qualquer teste. A Ford apesar de ter vindo testar para o Rali de Portugal acabou por não participar oficialmente, tendo a preparação dos carros sido entrege a Mike Little.